“Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade que está situada sobre um monte. Nem os que acendem uma luz a metem debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos os que estão em casa. Assim luza a vossa luz diante dos homens. Que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso pai, que está nos céus.” (Mateus V, 14-16).[2]
A nova era.[3]
A humanidade após receber o conhecimento e a verdade verte suas ações para o obscurantismo novamente. O Espiritismo revelado apresenta sua doutrina tendo por base as leis da Natureza, ou seja, segue a lógica, a máxima fora da caridade não há salvação, as diversas moradas, a continuidade da vida e a eternidade do Espírito. Ressalta a colheita pela semeadura individual, desta forma, a justiça é isenta e igual para todos.
O conhecimento é facultado a todo aquele que se esforça para pôr em prática a verdade oriunda do Evangelho. Certamente, à medida que avança, aprende que os bens materiais são temporários e inócuos para o mundo espiritual. A necessidade de desapegar-se para dar continuidade a evolução espiritual é diária. Exige disciplina e esforço para extrair das leituras das mensagens oriundas do mundo espiritual a essência ou verdade.
Muitos espíritos receberam pela intuição e as vezes o contato direto do mundo espiritual convocando-os para missão e dentre eles destaca-se o de Agostinho de Tagaste (Santo Agostinho[4]), que se tornou um dos maiores divulgadores do Espiritismo e a manifestar-se em Espírito por toda a parte.
Padre fervoroso e dedicado estabeleceu as bases da Igreja Católica em face de seu conhecimento após estudos pertinentes à doutrina. Percebeu e entendeu nos primórdios de seus estudos que os prazeres materiais são efêmeros e não fazem parte da verdadeira evolução do Espírito.
Diante de sua capacidade intelectual Agostinho foi surpreendido como Saulo de Tarso quando este ouviu a voz do Cristo a chamar-lhe no deserto. Agostinho entendeu e fervorosamente respondeu à voz: “Meu Deus, meu Deus, perdoa-me, eu creio, eu sou cristão.” E a partir deste evento tornou-se um dos mais firmes sustentáculos do Evangelho.
Quando a senhora sua mãe desencarnou, “Santa Mônica”, Agostinho assim se manifestou: “Estou convencido de que minha mãe virá visitar-me e trazer-me conselhos, revelando-me o que nos espera na vida futura”. Foi feliz ao pronunciar-se desta forma, era o surgimento da Doutrina dos Espíritos. Nobre e disciplinado, estudioso e prático da caridade, Agostinho, como todo Espírito Missionário quando acionado pela Espiritualidade Superior abandona todo arcabouço anteriormente levantado e até certo ponto correto em face do momento de conhecimento dos fatos até então sob seu domínio.
Diante do surgimento da Luz que invoca o cristão ou espírita para assumir seu papel de divulgador pelos atos a serem praticados reconhece diante de ti a verdade universal e imutável a qual descortina a ignorância do ser levantando o véu que durante muito tempo impediu o avanço para a nova era.
Este despertar ocorreu quando Agostinho tinha trinta e três anos quando se desfez de seus bens, sob influência do bispo Ambrósio. Divulgou pela África durante quarenta anos a doutrina cristã por sua obra conhecida como “As Confissões”[5].
Trata-se da Teoria da Iluminação Agostinho que acreditava que as verdades que estão contidas dentro dos seres humanos era revelada assim que os mesmos conseguiam ter um encontro com os pensamentos internos, e estes, só poderiam ser acessados a partir do momento em que o homem conseguisse ter uma vida feliz e beata.
Esse conhecimento seria adquirido através dos preceitos filosóficos bem como, da teologia que permitia então, que houvesse a rememoração de Deus.
Eis que a doutrina neoplatônica o aproximou da fé: Deus tem que ser algo muito diferente da matéria, tem que ser espírito, espírito infinito. Foi admoestado pelos platônicos “a buscar a verdade incorpórea”. Agostinho é então privilegiado com uma notável experiência mística, descrita em detalhes no livro 7, Nº 10.[6]
Agostinho e o Espiritismo:
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontra-se algumas comunicações deste insigne Espírito. São elas: Os Mundos de Expiações e de Provas, Mundos Regeneradores e Progressão dos Mundos (Cap. 3, 13 a 19), O Mal e o Remédio (Cap. 4, 19), O Duelo (Cap. 12, 11 e 12), A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família (Cap. 14, 9) e Alegria da Prece (Cap. 27, 23).
Em O Livro dos Médiuns há anotações Sobre o Espiritismo (Cap. 31, 1) e Sobre as Sociedades Espíritas (Cap. 31, 16).
Nota de Allan Kardec:
Santo agostinho veio destruir aquilo que edificou? Não. Ele agora vê com os olhos do espírito; sua alma liberta da matéria entrevê novos horizontes, que lhe propiciam compreender o que não compreendia antes. Sobre a Terra, julgava as coisas segundo os conhecimentos que possuía, mas, quando uma nova luz se fez para ele, pode julgá-las mais judiciosamente. “Foi assim que mudou de ideia sobre sua crença concernente aos Espíritos íncubos e súcubos e sobre o anátema que havia lançado contra a teoria dos antípodas”. Com uma nova luz pode, sem renegar a sua fé, fazer-se propagador do Espiritismo, porque nele vê o cumprimento das coisas preditas. Proclamando-o, hoje, não faz senão nos conduzir a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos. (Kardec, 1984, cap. 1, p. 42)
Antípoda – Habitante que, em relação a outro do globo, se encontra em lugar diametralmente oposto.
Cícero (106-43)– Brilhante orador e político romano que se inspirava no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista etc.
Íncubo – Demônio masculino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
Maniqueísmo – Seita persa que afirmava ser o Universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. doutrina que reduz a realidade à oposição irredutível de dois princípios contraditórios, o Bem e o Mal, aos quais correspondem as realidades espirituais e materiais.
Neoplatonismo – Movimento filosófico do período greco-romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão. Entre os neoplatônicos, citam-se Plotino (205-270), Proclo (411-485). O neoplatonismo se espalhou por diversas cidades do Império Romano, sendo marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Patrística – Dá-se ao nome de patrística à fase de fundamentação e da fixação dos dogmas cristãos. Essa grande obra foi realizada pelos primeiros padres da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Eles buscavam estabelecer e explicar a doutrina cristã, mostrando que ela era perfeitamente digna de ser aceita pelas autoridades romanas e pelo povo em geral.
Súcubo - Demônio feminino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com um homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
Eram chamados esses espíritos, ou simplesmente demônios, eram, como hoje sabemos, espíritos ainda viciados em sexo, ou vampirizadores de energias, que se aproximavam de pessoas com quem sintonizavam.
Todo espírito missionário, antes de começar sua trajetória, irá passar por conflitos internos os quais lhe conduzem ao despertar da verdade e por consequência a Luz Divina brilhará em seu ser para que possa ser fiel no desempenho de sua missão. Este despertar é algo extraordinário de uma dimensão profunda onde a razão se entrega à Deus sem qualquer dúvida de sua existência. Por conseguinte, deduzimos que nós vamos ter esta experiência no caminho de nossa evolução, ela é única, personalíssima e inevitável.
Notas: [1] O LIVRO DE ALLAN KARDEC – toda obra editada em um único volume – Opus Editora Ltda – SP – O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 535. [2] Os mestres da terra - os místicos e líderes religiosos da humanidade, Carvalho, de Sérgio de Souza, Hemus Editora Ltda, rev. Raquelina Valmira Magri Santos, p. 125, 1992, SP. [3] O LIVRO DE ALLAN KARDEC – toda obra editada em um único volume – Opus Editora Ltda – SP – O Evangelho Segundo o Espiritismo, pp. 535/536, item 10 E 11 – A nova era . [4] AGOSTINHO (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (Raeper, 1997, p. 25) [5] AS CONFISSÕES de Santo agostinho, iniciada em 391 e concluída em 400, é uma obra fascinante. São treze livros, dos quais 9 autobiografados e 4 teologais. Nela se apresenta como o Filho Pródigo e a Ovelha Perdida do Evangelho de Lucas – perdido e depois encontrado, tal como o apóstolo Paulo. [6] A mística e os místicos, Ortega, Alicia, [tradução Equipe da ECE] - São Paulo: ECE, 1990, p. 180.
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